Você sabe o que esses projetos têm em comum?

🔹 Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro)

  • Expectativa inicial: Orçamento de US$ 6,5 bilhões com conclusão em 2011.
  • Realidade: Custo final de US$ 13 bilhões, com o projeto ainda inacabado.

🔹 Transposição do Rio São Francisco

  • Expectativa inicial: R$ 4,5 bilhões com entrega em 2012.
  • Realidade: Mais de R$ 12 bilhões e entrega em 2022.

🔹 Estádio Nacional de Brasília (Mané Garrincha)

  • Expectativa inicial: R$ 700 milhões.
  • Realidade: R$ 1,5 bilhão e subutilização.
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Esses megaprojetos, custo superior a R$ 1 bilhão, compartilham um elemento comum: o viés do otimismo. A subestimação de custos, a superestimação dos prazos de entrega e a negligência em relação aos riscos são características marcantes em todos eles.

O viés do otimismo é uma armadilha cognitiva que afeta a tomada de decisões em diversos setores, mas quando se trata de megaprojetos, o impacto desse fenômeno é amplificado de maneira significativa. Este viés leva equipes a subestimar riscos e superestimar os benefícios, resultando frequentemente em estouros de orçamento, atrasos e, em casos extremos, falhas irreversíveis no projeto.

O artigo "Mitigating Optimism Bias in Project Planning: A Step-by-Step Approach", publicado na Project Management Journal, aborda precisamente esse desafio, oferecendo uma análise aprofundada das causas e soluções para mitigar o viés do otimismo durante o planejamento de projetos.

Por Que Grandes Projetos São Mais Vulneráveis?

Em projetos de grande escala, a complexidade é inerente. Desde a multiplicidade de partes interessadas até a interdependência de tarefas críticas, qualquer falha de cálculo ou previsão distorcida tende a se multiplicar ao longo do ciclo de vida do projeto. Em iniciativas que movimentam bilhões e abrangem anos de execução, mesmo uma pequena subestimação nos custos ou no tempo necessário pode ter efeitos catastróficos.

A empolgação de iniciar um novo projeto, combinada com pressões políticas ou empresariais, cria um ambiente perfeito para que o viés do otimismo prospere.

Impactos Comuns em Megaprojetos:

  • Cronogramas irrealistas que ignoram a experiência de projetos anteriores.
  • Orçamentos insuficientes que falham em contabilizar riscos imprevistos.
  • Desconsideração de riscos técnicos devido à confiança exagerada na inovação e nas novas tecnologias.

Exemplos na Prática: O Viés do Otimismo em Ação

🔹 F-35 Lightning II (Programa Joint Strike Fighter)
Um dos exemplos mais notórios de viés do otimismo é o programa F-35, uma das aeronaves de combate mais caras da história. O projeto foi anunciado com a promessa de entregar uma frota moderna e multifuncional, mas desde o início enfrentou atrasos significativos e estouros de orçamento de bilhões de dólares.

  • Expectativa inicial: Entregar uma aeronave com tecnologia revolucionária, que serviria simultaneamente para forças aéreas, navais e terrestres.
  • Realidade: Problemas técnicos complexos, reavaliação constante do projeto e uma cadeia de suprimentos que não acompanhou a demanda fizeram com que o custo total superasse os 1,7 trilhões de dólares.
  • Lição: A subestimação da complexidade do desenvolvimento de uma aeronave “universal” resultou em revisões de escopo e prazos, demonstrando como o excesso de confiança na inovação pode mascarar riscos.

🔹 Eurotúnel (Canal da Mancha)
A construção do Eurotúnel, ligando a França ao Reino Unido, é outro exemplo clássico.

  • Expectativa inicial: O projeto, orçado em cerca de 2,6 bilhões de libras esterlinas, previa uma entrega rápida e sem grandes contratempos.
  • Realidade: O custo final chegou a quase 5 bilhões de libras, quase o dobro do orçamento original. Atrasos causados por problemas geotécnicos, dificuldades de engenharia e disputas entre as empresas envolvidas foram fatores que os planejadores não consideraram adequadamente.
  • Lição: A falta de consideração por cenários adversos e a pressão para entregar um projeto ambicioso rapidamente ampliaram os problemas.

🔹 Usina Hidrelétrica de Belo Monte (Brasil)
Belo Monte, um dos maiores projetos de infraestrutura do Brasil, também é um caso emblemático.

  • Expectativa inicial: A construção da usina foi planejada para cobrir as crescentes demandas energéticas do país, com um orçamento inicial de 16 bilhões de reais.
  • Realidade: O projeto foi concluído com um custo que ultrapassou 30 bilhões de reais e atrasos significativos devido a complicações ambientais, sociais e jurídicas. A resistência de comunidades locais e questões indígenas não foram consideradas em sua devida proporção durante o planejamento.
  • Lição: O excesso de confiança na viabilidade do projeto resultou em subestimação dos riscos sociais e ambientais.

Outros Megaprojetos executados no Brasil.

🔹 Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro)

  • Expectativa inicial: Orçamento de US$ 6,5 bilhões com conclusão em 2011.
  • Realidade: Custo final de US$ 13 bilhões, com o projeto ainda inacabado.

🔹 Transposição do Rio São Francisco

  • Expectativa inicial: R$ 4,5 bilhões com entrega em 2012.
  • Realidade: Mais de R$ 12 bilhões e entrega em 2022.

🔹 Estádio Nacional de Brasília (Mané Garrincha)

  • Expectativa inicial: R$ 700 milhões.
  • Realidade: R$ 1,5 bilhão e subutilização.

Como Mitigar o Viés do Otimismo?

Os autores do artigo sugerem diversas abordagens para minimizar o impacto desse viés:

  1. Uso de Dados Históricos (Reference Class Forecasting):
    Analisar o desempenho de projetos semelhantes no passado para estabelecer expectativas mais realistas.
    • Exemplo: Antes de iniciar um novo megaprojeto de infraestrutura, utilizar dados de projetos semelhantes (como Belo Monte ou o Eurotúnel) para criar cenários mais precisos.
  2. Revisões Independentes:
    Incorporar avaliações externas e imparciais durante o processo de planejamento.
    • Exemplo: Auditorias externas em projetos militares e de infraestrutura ajudam a detectar riscos que podem passar despercebidos pelas equipes internas.
  3. Cultura de Transparência:
    Incentivar equipes a apontarem riscos sem receio de represálias ou julgamentos.
    • Exemplo: Empresas que criam fóruns para discussões de riscos de maneira aberta têm maior chance de identificar problemas precocemente.
  4. Modelagem de Cenários:
    Testar diferentes cenários, incluindo os mais pessimistas, para preparar melhor a equipe para o inesperado.
    • Exemplo: Ao planejar projetos, realizar simulações de custo e cronograma baseadas em múltiplas variáveis, desde melhores até piores cenários.

Conclusão: Preparar-se para o Real, Não para o Ideal

O viés do otimismo não é apenas um obstáculo psicológico – é uma ameaça real ao sucesso de grandes projetos. Reconhecer esse fenômeno e incorporar práticas que o mitiguem é fundamental para aumentar as chances de sucesso.

🔗 Confira o artigo de referência para este post aqui:
Mitigating Optimism Bias in Project Planning: A Step-by-Step Approach