Os Jogos Olímpicos, realizados a cada quatro anos, são eventos grandiosos que envolvem inúmeras competições e uma logística complexa. Desde 1960, os custos para organizar os Jogos cresceram de forma espetacular, alcançando dezenas de bilhões de dólares. Uma característica marcante desses eventos é que todos, sem exceção, excederam seus orçamentos, com um sobrecusto médio de 157% em termos reais. Apenas o armazenamento de resíduos nucleares apresenta sobrecustos maiores entre as categorias de projetos estudadas por Flyvbjerg e apresentadas em "Cost Overruns in Major Infrastructure Projects". Neste artigo, como gerente de projetos, pretendo analisar as razões pelas quais os Jogos Olímpicos apresentam consistentemente tais sobrecustos, mesmo sendo um projeto repetido.

A Falta de Experiência Contínua


Uma das principais razões para os elevados sobrecustos é a falta de uma sede permanente para os Jogos Olímpicos. O Comitê Olímpico Internacional (COI) promove uma rotação de cidades-sede, permitindo que diferentes regiões e continentes recebam o evento. Essa política de rotatividade serve aos interesses do COI ao promover a marca olímpica globalmente, mas tem um custo significativo: a falta de experiência contínua.

Quando uma cidade ganha o direito de sediar os Jogos, é provável que não tenha experiência prévia ou que a última vez que sediou o evento tenha sido há tanto tempo que os organizadores anteriores já estejam aposentados ou falecidos. Por exemplo, Londres sediou os Jogos com um intervalo de 64 anos entre as edições, Tóquio com 57 anos e Los Angeles com 52 anos. A cada nova edição, os organizadores são, essencialmente, principiantes, resultando no que podemos chamar de "síndrome do principiante eterno". Esse fenômeno impede a criação de uma curva de aprendizado eficiente, essencial para a gestão de projetos de tal magnitude.

A Busca pelo Superlativo


O lema olímpico "Mais rápido, mais alto, mais forte" também impulsiona as cidades-sede a buscar superlativos em suas construções. Em vez de reutilizar designs existentes ou repetir modelos comprovadamente eficazes, as cidades tentam construir as estruturas mais inovadoras, grandes, altas e únicas. Essa busca pelo ineditismo exclui a experiência anterior e frequentemente resulta em complexidades e desafios imprevistos, que aumentam os custos e atrasam as obras.

O exemplo mais emblemático dessa busca pelo superlativo foi o estádio olímpico de Montreal em 1976. O design inovador e complexo do arquiteto Roger Taillibert, que incluía uma torre inclinada e um teto retrátil, levou a uma série de problemas práticos durante a construção. A falta de consideração pelas possibilidades de construção e a interferência das gruas resultaram em custos exorbitantes e atrasos significativos. Mesmo após os Jogos, os custos continuaram a subir, transformando o estádio em um símbolo dos sobrecustos olímpicos.

Interesses Políticos e Contratos Locais


Outro fator que contribui para os sobrecustos é a necessidade de os governos locais garantirem apoio para suas candidaturas prometendo contratos e empregos lucrativos à população local. Embora contratar empresas e profissionais experientes de edições anteriores pudesse ajudar a reduzir os custos, a política local geralmente impede essa prática. A falta de experiência na direção de uma força de trabalho tão diversificada e a pressão para utilizar mão de obra local inexperiente contribuem para os sobrecustos e a ineficiência na gestão dos projetos.

Conclusão


Os Jogos Olímpicos são eventos únicos que, apesar de sua periodicidade, apresentam desafios específicos no gerenciamento de projetos devido à falta de experiência contínua, à busca pelo superlativo nas construções e aos interesses políticos locais. A combinação desses fatores resulta em sobrecustos inevitáveis e significativos. Para mitigar esses desafios, seria essencial uma abordagem mais padronizada e a incorporação de lições aprendidas de edições anteriores, buscando um equilíbrio entre inovação e pragmatismo na gestão dos projetos olímpicos.

Referências


- Flyvbjerg, B., et al. "Cost Overruns in Major Infrastructure Projects."
- Montreal Gazette. "The Cost of Montreal's Olympic Stadium."
- Relatórios e estudos de casos de edições olímpicas anteriores.